Fui num evento, e agora? Encontro Solidário de Blogueiros 2016 + Propaganda da Aspirina

Encontro Solidário de Blogueiros 2016 - Violencia contra a mulher

Há pouco mais de uma semana aconteceu em São Paulo o Encontro Solidário de Blogueiros 2016, organizado pela Bruna Della, do Cappuccino e Bobagens. Esse ano, o evento teve como tema a violência contra a mulher e contou com a participação de diversas blogueiras e parceiros. Acompanhei tudo de perto e, por fim, pensei: ok, está havendo discussão, evento praticamente lotado, mas e depois?

As gincanas que rolaram antes e durante o evento, a peça teatral que rolou no começo e as palestras sem dúvida fizeram com que todo mundo pensasse fora da caixa sobre questões que muitas vezes, infelizmente, são ignoradas por muitos, como estupro e discriminação de gênero, mas a minha preocupação era com o que isso de fato significaria para cada participante. Houve inclusive um momento em que a minha pessoa disse algumas palavras, mas creio que não me fiz entender direito, então segue aqui novamente a reflexão.

Se você tem um blog, independentemente de ter comparecido ou não ao encontro, sugiro que continue a leitura. Não para curtir, comentar ou compartilhar (a menos que queira, claro, e nesse caso fico muito feliz), mas para refletir no seu papel nesse mundo doido chamado internet.

Propaganda da Aspirina + Você na Comunicação

Um dos pontos mais citados pelas palestrantes foi a forma como a violência contra a mulher, em todos os seus âmbitos, se construiu ao longo do tempo, a ponto de se enraizar em nossa sociedade e muitas vezes ser tratada como algo comum. Mas, se é algo construído, com certeza pode e deve ser descontruído, mesmo que aos poucos, e é aí que você, que tem voz ativa na internet, entra.

Afinal, um blog ou canal são veículos de comunicação mesmo que tenham pouquíssimos seguidores, e você obviamente é um comunicador (a), mesmo que não queira. Portanto, sua ajuda no debate de assuntos como esse são de extrema importância, uma vez também que seu objetivo, creio eu, é crescer a ponto de frequentar mais eventos e ganhar presentes de marcas que, muitas vezes, reforçam o discurso da mulher como objeto sexual ou ser humano inferior.

Vemos esse tipo de discurso frequentemente em propagandas de cerveja, vestuário, carro e, recentemente, até mesmo numa peça publicitária para a Aspirina, um dos medicamentos mais utilizados pelos brasileiros, que inclusive ganhou prêmio no maior festival de publicidade do mundo. O pessoal da agência sabia o que estava fazendo? Com certeza. O cliente aprovou? Claro. Os jurados não se tocaram do close errado? Pelo visto não, mesmo por que a obrigação de saber o impacto que o texto utilizado causaria no nosso país é de obrigação da própria agência, que provavelmente já ouviu histórias de garotas que se suicidaram por causa de vídeos íntimos divulgados:

propaganda aspirina

Mas o que eu quero fizer, na verdade, para parar de enrolar, é que nos deparamos diariamente com um verdadeiro bombardeio de anúncios, e sempre será assim. Como consumidores, temos o direito de reclamar, denunciar em órgãos responsáveis e fazer textão no Facebook, mas somente como comunicadores podemos de fato fazer algo “com a mão na massa”. A triste notícia é que mesmo quem está dentro das agências, incluindo mulheres, e condenam esse tipo de discurso, acabada virando piada para colegas que levantam a bandeira de que o politicamente correto está matando a propaganda e que as pessoas estão se irritando por qualquer coisa. Nesse caso, há duas coisas que podem ser feitas:

  1. Concluir um curso de Comunicação Social, tentar uma vaga numa agência e tentar mudar algo de lá de dentro.
  2. Utilizar seu blog, ou seu canal, como forma de tratar desses assuntos sociais de forma mais intensa.

E não digo que você deva fazer isso direto, mas começar simplesmente usando o sendo crítico e sabendo onde está se metendo. Marcas de medicamentos também fazem ações com blogs e canais, e tenho certeza que você ficaria mega feliz recebendo convite para um evento da Aspirina ou fechando uma parceria com eles para um publi… Mas e agora que você ficou sabendo desse outro lado, ainda toparia? Se a resposta for sim, só te peço para ler mais sobre a polêmica gerada e lembrar que essa simples imagem passou pela análise de pelo menos umas 10 pessoas antes de ser aprovada. E que, mesmo que alguém tenha falado “hey, que machista, não podemos passar isso pra frente!” houve aprovação.

Por isso a pergunta do começo… O evento está legal, mas e depois? Cada blogueira (o) que estava presente possui o sonho de receber mimos diversos, mas é só isso que importa? E a história por trás da marca trabalhada? E o discurso que a mesma trabalha? Vale a pena fazer vista grossa? Se sim, qual discurso VOCÊ usaria para justificar trabalhar para uma marca que vende a mulher como objeto, que a rebaixa? Como você se sentiria tendo o poder de usar a comunicação para ajudar a desconstruir algo que ela mesma construiu, mas preferir pensar no dinheiro ou status?

E, por fim, vale lembrar que não são só os publicitários responsáveis por tudo isso. Vai abaixo um breve exemplo de como os profissionais das áreas da comunicação podem fazer diferente:

  • RÁDIO/TV/INTERNET/CINEMA: que tal evitar a sexualização desnecessária da mulher como forma de atrair audiência? O filme Esquadrão Suicida, por exemplo, já é tratado como um filme feito para homens por conta de uma das personagens. No mundo dos games, inclusive, não é difícil ver o mesmo objetivo, sendo que mesmo em jogos nos quais as mulheres estão mais “cobertas” há o corpo sensual (trio peitão, bundão, cinturinha).
  • JORNALISMO: que tal tratar as coisas de forma menos sensacionalista? A suposta foto da garota estuprada no Rio de Janeiro foi ilustração para textos que denegriam sua imagem e não eram imparciais, muito menos profissionais, pelo simples objetivo de gerar polêmica utilizando uma mulher.
  • PUBLICIDADE E PROPAGANDA: que tal menos sexualização e menos “mulher feliz cuidando da casa e dos filhos enquanto o maridão trabalha, afinal é pra isso que ela serve”? O exemplo da Aspirina é apenas um em meio a centenas.
  • RELAÇÕES PÚBLICAS: é o responsável por apagar o incêndio quando há casos polêmicos como o da Aspirina, mas que tal pensar se realmente vale a pena defender uma empresa que permite o tipo de discurso adotado?

Claro que o mundo não é perfeito, todo mundo precisa trabalhar e muitas vezes é preciso deixar passar muita coisa, e esse é mais um ponto positivo para você. Como blogueiro (a), além de comunicador (a) você também é empreendedor (a), ou seja: pode inclusive escolher para quem trabalha e quais locais frequenta.

Sendo assim, utilize a reflexão desse texto sempre que possível e não se venda para qualquer marca. Muitas delas se envolvem em polêmicas machistas, trabalhistas e com outros “istas” das quais nem ficamos sabendo, mas que podem estragar a SUA imagem rapidamente.

O Encontro Solidário de Blogueiros 2016 trouxe à tona o problema, esperando contar com a colaboração de todos na busca para soluciona-lo, e é isso que também espero.

Deixe aqui a sua percepção sobre o evento ou a sua opinião sobre o assunto caso queira manter a conversa ativa.

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